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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DUFF FILMES: O Cavaleiro das Trevas

 



Em 18 de Julho 2008, era lançado nos cinemas um filme que foi uma grande revolução nas adaptações para quadrinhos, cuja importância hoje lhe deu lugar ao National Film Registry, tornando-se uma produção histórica que será preservada para futuras gerações, estrelado por dois personagens que em 1989, definiram os rumos dos filmes de super-heróis.

Batman faz história mais uma vez.






A história se passa dois anos após Batman Begins. A criminalidade de Gotham City caiu drasticamente graças as ações do vigilante encapuzado (Christian Bale), e tudo parece melhorar com a candidatura a prefeito do integro promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart)que se alia ao então tenente James Gordon (Gray Oldman) para acabar com o que resta da máfia, enquanto firma seu relacionamento com Rachel Dawes ( Maggie Gyllenhaal, substituindo Katie Holmes) amiga de infância de Bruce e interesse amoroso, mas o jogo vira quando o agente do caos conhecido como Coringa (Heath Ledger, em seu último e melhor papel de sua vida) propõe uma solução ao chefes do crime: matar o Batman, que contando com a ajuda de seu sempre fiel mordomo Alfred Pennyworth (Michael Caine) e do engenheiro Lucius Fox (Morgan Freeman), começa um jogo de gato e rato com o Palhaço do Crime, que deseja colocar Gotham em um turbilhão de caos e loucura.





O Cavaleiro das Trevas foi um filme revolucionário em muitos sentidos, a começar pelo titulo, que pela primeira vez, não traz o nome do herói. Primeiro, evoluiu o universo realista e sombrio proposto pelo diretor Christopher Nolan no filme anterior, trazendo uma história mais adulta, se tornando mais um filme policial do que um filme de super-herói, longe dos heróis e vilões coloridos dos filmes da Marvel, e até mesmo o arsenal do Homem-Morcego (desde a nova armadura até seus veículos) segue uma linha mais realista, tornando-o mais tático, quase um soldado. Segundo, nos trouxe a versão cinematográfica definitiva de Batman e Coringa, eternos nêmeses que roubam a cena juntos, equilibrando a importância de seus respectivos papeis como agentes da ordem e dos caos, com o palhaço levando o justiceiro ao limite, ao ponto de pensar em cruzar a linha que os separa, mostrando que no fundo, são duas pessoas que estão acima das regras da sociedade. E terceiro e mais importante: mostrou que super-heróis, criados para entreter as crianças, também podem contar histórias maduras e sérias, abrindo caminha para obras como Watchman, Logan e até mesmo as séries Marvel/Netflix como Demolidor.




De acordo com David S. Goyer, o tema principal é a escalada. Gotham City é fraca e seus cidadãos culpam o Batman pela violência e a corrupção, como também as ameaças do Coringa, e empurra seus limites, fazendo ele sentir que cumprindo a lei por suas próprias está degradando ainda mais a cidade. Roger Ebert notou "Pelo filme, [o Coringa] cria situações engenhosas para forçar o Batman, o Comissário Gordon e o Promotor Público Harvey Dent a fazerem escolhas eticamente impossíveis. No final, toda a fundação moral da lenda do Batman é ameaçada".


Os coadjuvantes não ficam a sombra dos protagonistas e tem seu espaço na trama, desde os mafiosos, como Sal Marone (Eric Roberts), Alfred e Lucius, que estão longe de serem apenas apoio ao herói e chegam a criticar os seus métodos de combate ao crime, e até Rachel, que protagoniza a cena mais dramática do filme, mostrando que a verdadeira Gotham está em seus cidadãos, como mostrado na antológica cena dos dois barcos.





Falemos dos dois astros da ópera...Ordem e Caos.


Poucos filmes baseados em quadrinhos hoje trazem o equilíbrio entre o herói e o vilão, como a maioria dos filmes do UCM. Mesmo os filmes antigos do Batman davam mais destaque para os vilões quanto para o protagonista-titulo, que só servia como escada para a ação. Neste filme, tanto Batman quanto Coringa são as duas forças que movem a história. 


De um lado, vemos um Batman já estabelecido como o defensor de Gotham, desafiando as leis para que a justiça seja feita, até que ele se vê diante de uma força que põe por terra tudo o que ele acreditava estar certo, levando a se questionar se deve quebrar sua única regra para que as pessoas ao seu redor não sofram com sua cruzada. Christian Bale nos entrega a melhor performance do personagem vista até então, mostrando um herói que de início se mostra inabalável, mas acaba tendo seu momento de maior fraqueza e derrota, quando mais uma vez, se vê diante da perda daquilo que mais amava.


Do outro lado, temos um Coringa mais assustador do que nunca, um homem sozinho, sem história ou motivação, mostrado como a encarnação do caos que simplesmente faz as coisas apenas para ver o circo pegar fogo, e se delicia em ver toda a estrutura da sociedade e suas regras desabarem em um mar de anarquia. Heath Ledger, ignorando sua trágica morte, transformou o palhaço no maior ícone pop de nosso tempo, com cada fala ou ação sua sua trazendo para nós sua filosofia anarquista, com uma profundidade que jamais foi ou será explorada.






Eu já tinha visto muita coisa do Batman em filmes, quadrinhos e animações, mas quando vi o filme pela primeira vez, nem sequer me passou pela cabeça de ver um filme onde o super-herói, mesmo vencendo o vilão, não tem seu final feliz, sequer fica com a mocinha no final...pior, ela morre no meio do filme. 


Com Batman Begins, Christopher Nolan apresentou um ótimo filme de origem com uma boa direção e um grande elenco para apresentar o Cavaleiro de Gotham a uma nova geração. Mas com O Cavaleiro das Trevas, ele nos entregou um marco histórico na cultura pop, com uma trama ao mesmo tempo simples e complexo, onde a luta entre o bem e o mal deixou de ser inocente e a vitória significa a derrota, nos trazendo uma reflexão profunda sobre nossa sociedade frágil diante da violência e da insegurança de nossa falha justiça, nos levando a pensar se devemos ou não cruzar a linha entre o herói e o justiceiro.


Você cruzaria?







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