De acordo com David S. Goyer, o tema principal é a escalada. Gotham City é fraca e seus cidadãos culpam o Batman pela violência e a corrupção, como também as ameaças do Coringa, e empurra seus limites, fazendo ele sentir que cumprindo a lei por suas próprias está degradando ainda mais a cidade. Roger Ebert notou "Pelo filme, [o Coringa] cria situações engenhosas para forçar o Batman, o Comissário Gordon e o Promotor Público Harvey Dent a fazerem escolhas eticamente impossíveis. No final, toda a fundação moral da lenda do Batman é ameaçada".
Os coadjuvantes não ficam a sombra dos protagonistas e tem seu espaço na trama, desde os mafiosos, como Sal Marone (Eric Roberts), Alfred e Lucius, que estão longe de serem apenas apoio ao herói e chegam a criticar os seus métodos de combate ao crime, e até Rachel, que protagoniza a cena mais dramática do filme, mostrando que a verdadeira Gotham está em seus cidadãos, como mostrado na antológica cena dos dois barcos.
Falemos dos dois astros da ópera...Ordem e Caos.
Poucos filmes baseados em quadrinhos hoje trazem o equilíbrio entre o herói e o vilão, como a maioria dos filmes do UCM. Mesmo os filmes antigos do Batman davam mais destaque para os vilões quanto para o protagonista-titulo, que só servia como escada para a ação. Neste filme, tanto Batman quanto Coringa são as duas forças que movem a história.
De um lado, vemos um Batman já estabelecido como o defensor de Gotham, desafiando as leis para que a justiça seja feita, até que ele se vê diante de uma força que põe por terra tudo o que ele acreditava estar certo, levando a se questionar se deve quebrar sua única regra para que as pessoas ao seu redor não sofram com sua cruzada. Christian Bale nos entrega a melhor performance do personagem vista até então, mostrando um herói que de início se mostra inabalável, mas acaba tendo seu momento de maior fraqueza e derrota, quando mais uma vez, se vê diante da perda daquilo que mais amava.
Do outro lado, temos um Coringa mais assustador do que nunca, um homem sozinho, sem história ou motivação, mostrado como a encarnação do caos que simplesmente faz as coisas apenas para ver o circo pegar fogo, e se delicia em ver toda a estrutura da sociedade e suas regras desabarem em um mar de anarquia. Heath Ledger, ignorando sua trágica morte, transformou o palhaço no maior ícone pop de nosso tempo, com cada fala ou ação sua sua trazendo para nós sua filosofia anarquista, com uma profundidade que jamais foi ou será explorada.
Eu já tinha visto muita coisa do Batman em filmes, quadrinhos e animações, mas quando vi o filme pela primeira vez, nem sequer me passou pela cabeça de ver um filme onde o super-herói, mesmo vencendo o vilão, não tem seu final feliz, sequer fica com a mocinha no final...pior, ela morre no meio do filme.
Com Batman Begins, Christopher Nolan apresentou um ótimo filme de origem com uma boa direção e um grande elenco para apresentar o Cavaleiro de Gotham a uma nova geração. Mas com O Cavaleiro das Trevas, ele nos entregou um marco histórico na cultura pop, com uma trama ao mesmo tempo simples e complexo, onde a luta entre o bem e o mal deixou de ser inocente e a vitória significa a derrota, nos trazendo uma reflexão profunda sobre nossa sociedade frágil diante da violência e da insegurança de nossa falha justiça, nos levando a pensar se devemos ou não cruzar a linha entre o herói e o justiceiro.
Você cruzaria?
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